terça-feira, 30 de setembro de 2014

"AO USAR O SANITÁRIO DÊ A DESCARGA"

Perguntei a um jurista: - por que uma pessoa que tenta suicídio e escapa não responde criminalmente, e os que tentam homicídio respondem a processo e até são presos?

- Não há lei que proíba você prejudicar-se a si mesmo, aquilo que você faz contra si mesmo. Mas a lei prevê proteção aos que são vítimas de algum mal causado pelo outro. 
Se levarmos em consideração esse argumento, é possível entender que a minoria pode fazer o que quiser, contanto que seus atos não interfiram nos direitos da maioria, seja por questões práticas ou por pregações ideológicas do ativismo tendencioso. 

O filho levou um tapa na boca ao ser visto pelo pai com um cigarro. Logo depois, ao sentarem-se à mesa para almoçar, o pai acendeu um cigarro e fumou. O menino perguntou: por que você pode fumar e eu não posso? 


Nossa sociedade é formada com base em exemplos, naquilo que se vê, que se exterioriza.

Tempos atrás, o pai corrigiu seu filho que beijava a boca de sua irmã. Mas o menino disse que estava imitando o que viu na televisão. Recentemente, um menino de 5 anos beijava seu colega na boca porque tinha assistido a um beijo gay na novela. Aos poucos essas influências acabam minando e criando tendência comportamental como se fosse algo que devesse ser compartilhado, até por força de lei. Isso certamente foge ao princípio dos direitos.

Podemos considerar que as classificações de faixa etária regula a audiência por idade, certamente por exercer influência em mentes que não sabem discernir entre uma coisa e outra; entre o real e o imaginário. 
Eu me lembro de uma campanha contra o fumo, em que nas emissoras de rádio a peça dizia: "Se alguém fumar do seu lado, diga educadamente: obrigado, não quero fumar seu cigarro." 


O objetivo era proteger a saúde de quem não fumava, pois os fumantes passivos, seriam mais prejudicados que os fumantes ativos. 

Eu não soube de órgãos representativos dos direitos humanos ter entrado com processo contra discriminação a favor dos fumantes. 

Pelo andar da carruagem da sociedade moderna, os direitos humanos devem entrar, em breve com representação em defesa dos alcoólatras por discriminação ao serem abordados e obrigados a soprar o bafômetro. E eu nunca vi um alcoólatra dizer que é discriminado quando é preso por dirigir embriagado. E os bares, supermercados e botequins, tem suas prateleiras lotadas de bebidas!  

Mas ele não tem o direito de beber? Sim. Mas quando sua embriaguez interfere na vida de outras pessoas, na paz do convívio social e no respeito ao espaço público, torna-se algo nocivo não a si mesmo, mas aos demais.

Por que esse mesmo princípio não pode ser adotado em relação a comportamentos sociais que interferem, principalmente, em quem ainda não tem maturidade para entender o meio em que vive? O que o estatuto da criança e do adolescente reza a respeito de comportamentos alheios que geram influência sobre os menores?

Certa vez me senti ofendido quando ao entrar no banheiro da escola li um cartaz que trazia esse alerta. Pensei com meus botões: eu sempre dou descarga quando uso o sanitário. Esse aviso não está sendo justo comigo! Procurei então a professora e disse isso a ela. 

A resposta foi simples. - Esse aviso então não é para você, ignore-o. O aviso é para quem usa e não dá a descarga. 

Já imaginou se uma minoria ofendida, se unisse a outros e fizesse protesto para tirar o aviso "constrangedor?" A convivência em grupo, sem dúvida, deve respeitar o que é bom para a maioria, o que é saudável e higiênico, em questões externas. Mas há questões morais e imateriais que interferem e influenciam a convivência e é isso que temos assimilar ou que combater quando torna-se institucional e impositivo.  O que é natural não é impositivo. A imposição e auto justificação parte da rebeldia.

A GERAÇÃO FAST FOOD

“As crianças hoje não aprendem para a vida. Os jovens hoje só estudam para passar em concurso” – disse uma entrevistada num programa de rádio.
Será que ela tem razão?

Não se pode trazer um tema generalizado, pois há exceções, mas  as exceções aparecem apenas como algo aleatório e é comum que haja a exploração generalizada de exemplos que não deveriam ser seguidos. Discute-se os direitos de crianças e jovens, mas pouco se fala de seus deveres, que vem sendo esquecido ao longo das décadas. Os desejos individuais passam a ser “palavra de ordem.” As vontades devem ser satisfeitas, independentemente de que tipo de vontade e que interferência ela pode trazer para os direitos dos outros. Ao olhar sua realidade de vida, seu histórico meritório por suas lutas e conquistas, acaba passando por cima das realidades alheias e, em muitos casos, subjugando os outros sem o desempenho semelhante. 

A atual geração, por um lado, rica de informação sobre tudo que a rodeia, que domina a tecnologia e sabe qual é a última moda da terra, por outro, padece a falta de conhecimento de outras coisas, essenciais, o desenvolvimento analítico e senso crítico das coisas e educação para a vida e princípio de cidadania. É quase comum preocupar-se em ganhar dinheiro e ter um bom salário e, para esse fim, estuda, treina, reza pela cartilha, o molde sistemático, e consegue realizar-se financeiramente ao passar para um concurso de uma multinacional ou empresas públicas. Mas é lá, no desempenho de suas atividades, que se manifesta a educação do indivíduo no trato com as pessoas que a ele se dirigem. Há até mesmo os que buscam ostentação e riqueza por métodos duvidosos. 


Mas de que  fontes  vem o salário que recebem? O que precisam fazer para manterem-se em seus cargos ou subir na carreira? Que princípios e valores norteiam as ações, e que motivações movem suas mãos? Para que finalidade? 

Há quem conhece com destreza as operações matemáticas, domina a química e a física; por outro lado, desconhece o que seria essencial para sua sobrevivência; o lidar com seus limites, com suas emoções, e com a mente cauterizada a ponto de não enxergar o outro. É a geração que entende que tudo se compra com dinheiro, e o dinheiro tornou-se um fim para todas as coisas; para suprir todas as necessidades e desejos pessoais. É a mesma geração que xinga de fundamentalista e preconceituoso os que procuram mostrar o outro lado da moeda. 

Aos poucos, a mente vai passando por um processo de altivez, de auto-suficiência; de cegueira compulsiva; a sensação de poder acaba roubando do indivíduo a possibilidade de gerenciar sua própria vida, não as coisas da vida. Peca-se nos relacionamentos, no respeito ao espaço coletivo; na cortesia. Essas ações ocorrem no trânsito, nas vias, nos bares, em casa. Há até mesmo aqueles que adotam comportamento de não juntar o lixo que produz pelo fato de ter alguém que o faça.  Os mesmos que vivem em busca de "direitos" que julgam ter, só porque "estão pagando". Os que exigem tratamento distinto do que é dado aos demais só porque se acham em "patamares" mais elevados economicamente.


O “crescimento” precisa ser proporcional ao preparo para a vida. Senão é apenas uma “casca” que ao quebrar-se revela o que traz do lado de dentro. E essa quebra ocorre em muitos casos, quando suas vontades não são satisfeitas, quando suas verdades são confrontadas; quando se deparam com a vida real, não a que construíram por sua imaginação e poder de compra. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

PERMITA-SE CAIR

Enquanto nos esforçamos para evitar uma queda, o desprendimento de energias é tanto que esse esforço torna-se apenas um meio de proteção temporário que só retarda o inevitável. É impossível viver bem sobre uma "corda bamba" por mais habilidade que alguém desenvolva para equilibrar-se. Muitas vezes a "operação tapa buraco" que realizamos não é suficiente para alcançar a periferia onde pode estar a raiz, o começo do problema. 

Atacamos aquilo que é visível aos olhos; começamos a rejeitar coisas que interferem em nossa integridade moral, física e espiritual, mas a atração dessas coisas podem ser fruto de nossas ações imateriais, que podem estar na nossa maneira de pensar que interfere em nosso condicionamento emocional, até mesmo por questões educacionais, a maneira como fomos educados, o juízo de valor que fazemos das coisas que nos cercam. 

Em muitos casos, seu valor e potencialidades são percebidos apenas por você, com base em seus esforços interiores e não consegue manifestar suas competências, porque canalizou de maneira errada o que é humildade; aprendeu que dinheiro é apenas fruto do trabalho (consequência) e, trabalhando, não vê o resultado esperado, mas não lhe ensinaram a sonhar, a  planejar; não ensinaram que perder e ganhar faz parte da vida, e quando você perde, culpa-se.  A vida torna-se cansativa e um fardo difícil de carregar porque não se permite a queda para um  recomeço. 

É bem verdade que temos medo de passar uma imagem de fracasso diante da comunidade da qual fazemos parte. Mas o maior fracasso é viver uma vida toda sem maiores resultados. 


Permitir-se cair, é deixar que o fracasso seja visto; é pedir socorro; dizer que precisa de ajuda. O silêncio em meio a crises só depõe contra você, contra sua integridade moral, quando seu sofrimento começa a se manifestar em sua saúde, comprometendo sua disposição que passam uma imagem distorcida sobre sonhos e desejos que você insiste em guardar para si mesmo, sem alardes, pela crendice de que quando sonhos são revelados, espíritos negativos podem impedir que se realizem;  quando assumimos que fazemos bem determinado trabalho atraímos a inveja, e você prefere desenhar em sua mente a solução mas desprovido de iniciativa, diante dos bloqueios que construiu.   

Por que não pensar o contrário: Quando compartilhamos os sonhos podemos atrair amigos para ajudar a construí-los; quando assumimos que fazemos bem o nosso trabalho, admitimos nosso conhecimento e ganhamos respeito no trabalho - e isso não pode ser confundido com falta de humildade.


Essa libertação só ocorrerá primeiro pela admissão, depois pelo caminho que precisa seguir e o planejamento para que o fim seja alcançado. Mas em todos os casos, é preciso buscar ajuda. Esse comportamento não é algo que se escolhe como se fosse algo numa vitrine. Ele é construído e ganha espaço em nossa vida por diversas vias, que vai do ambiente em que vivemos, os hábitos, cultura familiar, crenças e costumes. Chega um momento em que é importante um encontro consigo mesmo para rever suas atitudes; o porquê das coisas não darem certo como imagina em sua mente; as ações, se são  proporcionais e adequadas ao que deseja que aconteça. Seria vergonhoso admitir falência, ou às escondidas viver sofrendo em silêncio contando moedinhas para comprar o pão? 

Enquanto os "fracassos" que alimentamos estiverem entre as quatro paredes que construímos em nossa vida; enquanto as máscaras cobrirem as manchas do nosso rosto, não vamos experimentar a libertação e a consequente renovação. É preciso fazer a limpeza do ambiente para que novidades tenham espaço; abrir mão das quinquilharias que ocupam espaço sem nenhuma utilidade considerável. 

É importante lembrar que só se levanta quem cai; só cai quem está em pé. São dois extremos. Quando procuramos por meios artificiais o retardamento da queda, já é sinal que reconhecemos que estamos prestes a despencar. Muitas vezes as bases estão tão  ruídas que não dá mais para remendar. O recomeço pode resultar do "fundo do poço". Nem sempre o fim do poço é visto, mas sentido. É um estado de espírito, nem sempre é o que os outros vêem. É por isso que muitos criam raízes dentro dele, tornando sua vida estagnada e sem motivação; fria, escura. Há momento na vida em que é preciso deixar de lutar. A "entrega" pode refazer as forças; a trégua é momento de estabelecer planejamento para começar de novo. "Cair" pode ser uma decisão quando você desiste de "empurrar com a barriga" sem uma alternativa definitiva. Levantar-se da queda, é uma decisão diante da única alternativa de quem deseja viver. De verdade.

sábado, 27 de setembro de 2014

"AMOR" FORÇADO

Como entender o “amor” que se manifesta por força de lei? Parece que esse é o caminho que a nossa sociedade está se acostumando a caminhar; parece ser este um propósito para desqualificar o que representa o amor nas relações humanas esfriando ainda mais os vínculos afetivos entre pais e filhos. Estamos diante de uma geração que está aprendendo que a ingratidão não existe, o que existe são direitos desrespeitados e julgando que esses direitos para serem cumpridos, é preciso evocar o que prevê a lei, e que se alguém cumpre o que está previsto, faz mais que sua obrigação.
Foi assim que a aluna de uma escola disse à professora quando perguntou a ela se o pai havia acertado a festinha de comemoração de formatura. A menina disse com muita naturalidade: “Ele vai ter que pagar, é obrigação dele; não foi ele que me colocou no mundo?” A professora retrucou: “Mas e o amor, onde fica? Você acha que o seu pai faz coisas boas por você porque ele sabe que é obrigado a isso?”
Com este pensamento, como será o futuro dessa criança, já em sua tenra idade contaminada por um argumento que desumaniza as relações? Como será o pensamento dela com o marido ao constituir uma família? Seria apenas um negócio, uma sociedade, fazendo das partes apenas objetos distintos e com direitos garantidos por força da lei?
Como se pode criar vínculo de afeto do pai com o filho, se os filhos veem os pais apenas como seus genitores -  e que por isso tem a obrigação de alimentá-lo, dar educação, promover o conforto e abrigo? Onde fica a construção do sentimento afetivo dessa criança? Como diria o personagem Baby da Família Dinossauros: “Você tem que me amar.”
O homem estava sentado no banco da praça com as mãos no rosto, com o corpo encurvado, quando um amigo passava por perto e perguntou: -O que está acontecendo contigo? Está precisando de alguma coisa?

O amigo então levantou o rosto dizendo que não tinha vontade de voltar para casa. Disse que seu casamento não era bom e que não amava sua esposa. 

O amigo então perguntou: -Se não a ama, então por que se casou com ela? 

Ele então contou que se casou porque tinha que assumir suas responsabilidades, que tinha obrigação de criar o filho que teve com ela antes do casamento e que esse é o papel de homem. 
O amor precisa estar acima da questão de responsabilidades ou obrigações, do contrário, perde o sentido, torna-se um castigo.
É como aquele jovem que em nome da moral e da legalidade decide assumir relacionamentos porque não tem como voltar atrás pelo impacto que pode causar, mas que sem amor, mantém uma relação conturbada. O amor supera a moral e os bons costumes ao mesmo tempo em que não contraria a questão do respeito pelo próximo em todos os sentidos da vida. 


Sob outro aspecto, vivemos em uma geração que não está aprendendo a amar e que entende que para tudo há uma lei, e por isso passa a reivindicar tudo por direito.  É o mesmo princípio que leva uma criança a “denunciar” o pai por uma “palmada”, porque existe uma lei que pune com rigor o pai “transgressor.” É o mesmo espírito que leva a criança a dizer que o pai lhe dá abrigo e proteção, porque é uma obrigação dele e que a lei garante essa proteção às crianças.
A que ponto chegamos? Vivemos numa sociedade falida por falta de amor e sentimento de afeto entre as pessoas, e ainda há os que vivem reclamando a sua falta, mas por outro lado evocam a mesma lei quando percebem que seus “direitos” estão sendo violados. A força da lei cria uma sociedade hipócrita, fria e sem sentimento. O que acontece com os outros não é problema nosso. “Aconteceu com ele, ainda bem que não foi comigo” – a frase que de vez em quando ouvimos, mas quando acontece a nós, queremos “mover o mundo” a nosso favor.  

A idosa mãe, abandonada pelos filhos denunciados pela vizinhança, recusou a ajuda dos filhos que foram notificados por maus tratos ao idoso. Perguntada por um repórter o porquê de ter rejeitado a ajuda dos filhos, ela respondeu: “Se meus filhos não me visitam, não cuidam de mim pela força do amor, não quero que o façam pela força da lei; a lei não me conhece, nem conhece meus filhos; a lei é fria e nada pode fazer por ninguém, porque não tem sentimento.”

Quantas leis mais precisam ser criadas para remendar aquilo que seria completo se a humanidade aprendesse que a força do amor anula qualquer lei? 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

NÃO COMA MAMÃO

-Doutor, sempre que eu como mamão fico com a mão amarela - disse um paciente intrigado com o fato.O paciente surpreendeu-se com a resposta curta, óbvia e objetiva: -Se você come mamão e fica com a mão amarela, não coma mamão - disse o médico com firmeza. 
Certamente o paciente já havia deixado de comer mamão por causa da amarelidão na mão quando consumia a fruta, mas ele não esperava que sua revelação ao médico lhe rendesse essa resposta. 

Levando para outros aspectos da vida, é notório que não queremos ter o trabalho de investigar determinadas coisas, o porquê de vivenciarmos situações das quais perdemos o controle por nós mesmos, e buscamos o caminho mais fácil da aceitação. Há muitos que preferem "empurrar a vida com a barriga" porque temem o confronto da libertação. Mas como aceitar sem conhecer? Se alguém está irremediavelmente perdido, é preciso que ele tenha certeza disso, não uma hipótese ou suposição óbvia que se vê ou se percebe a curto prazo.Muitos podem adiar suas decisões por uma investigação profunda e seus reais motivos, simplesmente pelo medo de uma resposta que imagina. É assim que a vida paralisa, apenas cumprimos o ciclo de nossa existência e passamos pela vida, sem ao menos dar-nos a oportunidade de vivê-la com conhecimento e certeza. Engana-se quem pensa de que a única certeza que o ser humano tem é de que um dia vai morrer. Por outro lado, levamos em consideração com base em formas de pensar predefinidas de que tudo é relativo, e que cada pessoa vive o que escolhe viver, decide fazer o que realmente quer, e olhando com mais profundidade, observamos que não temos o controle de tudo. 

O paciente que queria uma resposta do médico sobre a amarelidão de sua mão ao comer mamão é um indício que pode ser ampliado para outras áreas da vida, de que muitas coisas fogem ao nosso controle. Mas o conhecimento da natureza das motivações e causas daquilo que não é natural e, que de algum modo, foge do que é convencional, pode levar a uma resposta menos rasa, capaz de despertar o princípio da mudança. 


É mais fácil dizer que "pau que nasce torto não endireita nunca" do que ter o trabalho de acertá-lo.Os defensores do óbvio, certamente dirão: "Por que o pau não pode ser torto? Deixe-o torto. Se nasceu para ser assim, que assim o seja." Essa é a visão óbvia e cômoda, que de algum modo, pela lógica atrai a simpatia de muitos. O que você faria se seu filho desejasse comer um tijolo, em vez de um bife? Não procuraria um médico para saber o que se passa com ele? 
É um exemplo de algo que se exterioriza, mas que tem uma causa invisível. Você o permitiria comer tijolo, só pelo fato de ele ter escolhido por algo que satisfaria seu estranho apetite, sem considerar os riscos para sua saúde física? Não procuraria ajuda para seu filho ou algum tratamento? Em muitos casos, aceitar determinadas situações pode ser o "lavar as mãos" das responsabilidades que os indivíduos tem de uns para com outros, de orientar, de oferecer ajuda. Na dimensão humana é fácil e cômodo fechar a questão do julgamento, usando o termo: "Não julgue para que não seja julgado." Mas que tipo de julgamento é feito? De que maneira nos enxergamos diante do julgamento que fazemos aos outros? Essa frase aniquila toda a possibilidade de julgamento ou leva o indivíduo olhar primeiro para seus erros e repará-los? O fato de todo ser humano ser passível de erros é suficiente para refrear a exortação ou desqualificar todo aquele que toma a iniciativa de denunciar os erros clamando por mudança?

"Ninguém tem nada a ver com a vida dos outros" - dizem, e emendam: "Cada um faz o que quer de sua vida, tem o direito de fazer o que bem entende." Mas como assim? Não somos seres sociais e vivemos em comunidade? 

Pelo simples fato de o direito de um começar quando termina o do outro, revela, sim, que temos a ver com a vida do outro. Na verdade, a sociedade vive segundo suas conveniências, e cria mecanismo de sobrevivência, até mesmo para fugir do convencional, do coletivo. Mas esse mecanismo é mais ideológico que acaba interferindo no comportamento social de quem se deixa levar pelo comodismo do óbvio. Não é natural que alguém fique com a mão amarela por comer mamão. Pode haver casos semelhantes, mas não é regra. Não seria o caso um motivo de investigação? Não dá para se contentar apenas com a resposta óbvia. "Se alguém quer fazer de sua vida o que quer, que assim o faça, não seria uma resposta digna para responder ao comportamento de quem se desviou, sob o ponto de vista natural". Alguma coisa pode estar errada e que precisa de atenção profunda. Não dá para aceitar sem entender. Não dá para mudar, se a causa é desconhecida.
Não é preciso ser especialista em nada para aceitar o óbvio, e hoje, parece ovacionado aquele que diz o que aparentemente é uma resposta que acalma os ânimos, mas não passa da superfície. Só quem sofre na pele sabe o que sente. Ninguém será capaz de responder pelo outro de maneira a libertar da dúvida. Fazê-lo aceitar, é a melhor saída para evitar maiores consequências que o encontro com a sua própria verdade pode causar.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O VALOR DA PROFECIA

Não há profecia sem profeta, alguém que recebeu o dom de anunciar acontecimentos futuros ou coisas que já aconteceram na vida de alguém. O objetivo da profecia não é o de constranger alguém pelo pecado que cometeu, ou torna-lo temeroso de consequências futuras de suas ações. Em muitas religiões, o profeta é uma figura presente como sendo alguém inspirado por Deus para transmitir uma mensagem ao povo. Muitas religiões surgem a partir de uma revelação dada a alguém que é reconhecido como da parte de Deus para alertar, instruir ou ensinar algo essencial para a vida espiritual. 

O profeta não é aquele que chama a atenção para si mesmo, como se adivinhasse o que acontece na vida de uma pessoa, formando plateias para assistirem ao "espetáculo". Que valor profético teria a "profecia" dita a um grupo de pessoas que pretende buscar a "cura" de que ali teria alguém com uma dor de cabeça? Ou de alguém que fez um crédito e está com a prestação atrasada? Que valor teria uma profecia apenas para constatar ou tentar "adivinhar" o que está acontecendo? 

A profecia tem valor profundo e, muitas vezes, de muito sofrimento para o profeta, não um meio de promover-se a si mesmo. Observe o caso do profeta Jonas. Ele ficou aborrecido com a bondade e tolerância de Deus ao povo de Nínive para quem devia levar a mensagem de arrependimento. A profecia era de que Ninive seria destruída se seu povo continuasse com suas práticas e muitos se arrependeram e não pereceram. (Jonas 3: 5

Outro caso como o de Ezequias. Deus havia dito a ele que morreria, e que deveria colocar sua "casa" em ordem. Ezequias tinha uma doença mortal e estava com sua vida espiritual arruinada. Certamente Deus não queria amedrontar Ezequias com a notícia, pelo contrário, foi um alerta para que ele se arrependesse. Diante da mensagem ele reconheceu seu estado e orou ao Senhor chorando arrependido por sua condição, e viveu mais 15 anos. (Isaías 38:3)

Mas qual é o valor da profecia? Quando eu era criança eu tinha medo dos assuntos proféticos pela maneira abordada. Era como se fosse um fim em si mesmo e que servisse apenas para dizer algo que aconteceria, porque não era apresentada a maneira como as pessoas podiam se orientar para que a profecia não se cumprisse em sua vida. A preocupação era desvendar quem era a besta do Apocalipse e o que representavam aqueles animais horríveis descritos na profecia, que a alguns gerava um certo orgulho pelo discernimento profético.  


Se por um lado a profecia só tem valor e digna de crédito quando se cumpre, por outro, é preciso crer que se cumprirá e, isso, (seu cumprimento) independe de nossa interferência. A revelação é apenas uma maneira de apontar como devemos nortear nossas escolhas e decisões diante das profecias. 



No plano de Deus não há uma decretação relacionada aos indivíduos, como se fossem predestinados a um futuro sombrio e sem perspectivas. Deus pode mudar a nossa sorte de acordo com a nossa mudança. Isso não quer dizer que Ele mude, mas responde à nossa mudança por seu caráter de amor e misericórdia. Deus não pode interferir nas escolhas do homem, mas seus avisos são a oportunidade que Ele dá aos que ouvem suas orientações. 

Há muitos que colocam em dúvida o caráter de Deus tentando sugerir sua "maldade" quando faz cumprir uma profecia desastrosa. Deus não "faz cumprir profecia", como se Ele estivesse manipulando para que tudo ocorresse do jeito que Ele falou. Pelo contrário: Ele predisse porque sabia que ia acontecer pelas ações pecaminosas de homens que não ouvem os seus ensinamentos. É importante entender que Deus é Onisciente. Ele sabe das coisas antes do acontecimento. Tudo o que ocorre na esfera do controle humano não tem ligação direta com a ação de Deus: "Aquilo que o homem plantar, isso também ceifará." (Gálatas 6:7). São as decisões livres do homem a manifestação de seu próprio caráter.  "De Deus não se zomba" porque Ele sabe tudo antes mesmo de acontecer. Ele não usará sua força desproporcional à força humana para abater os homens. Na esfera humana os resultados são proporcionais à força humana.  (Provérbios 11).  


A profecia tem um papel orientador também neste sentido. Ela não somente mostra o que vai acontecer, mas também a saída que deve ser tomada. Se a história é feita por homens, ele não pode interferir no passado, mas pode escolher o futuro que deseja. É o resquício dessa história e as cargas do passado ainda sobre os ombros da humanidade que despercebida de seus atos desconsidera que a partir de suas escolhas é que ainda reproduz e faz valer o sentido da profecia que pode recai sobre si, ao passo que aqueles que atentam ao alerta e despertam o interesse do encontro com uma nova maneira de viver, as predições não se concretizarão em sua vida. 


Quando o profeta diz que alguém será mal sucedido se continuar vivendo uma vida desregrada e rebelde, ele pode estar dizendo também que essa pessoa poderá não mudar de vida e assim sofrerá as consequências. Quando da parte de Deus ouve-se que haverá duas classes de pessoas: a que mudará de vida e que se rebelará, não é uma decretação individual como se alguém já estivesse “marcado” e não houvesse saída. Sob esse aspecto não haveria sentido essa profecia ser dita apenas para constatar obviamente o que iria acontecer. Não haveria sentido em alertar uma pessoa sobre o buraco à frente, sabendo que essa pessoa não tem outra chance. Do contrário sim. A força da profecia não está no fim que apresenta, mas na alternativa de salvação no meio do caminho. Ninguém cairá no abismo sem ter tido uma chance de mudar o rumo.


A profecia não é algo misterioso ou nebuloso; o homem não pode fazer nada para que ela mude seu curso sobre o que foi dito dos acontecimentos que precederiam o fim do mundo, por exemplo, como em Mateus 24. Não é para causar medo ou espanto, pois não teria sentido que diante disso não houvesse esperança para quem se protege e decide orientar-se para a sua segurança.

A revelação também aponta que quem for fiel até o fim, terá a vida eterna. (Mateus 24:13).

Apesar de o conhecimento ser importante, não é necessário que você seja um especialista ao decifrar os acontecimentos e compará-los com os prognósticos como fazem os grandes estudiosos para ser salvo. A salvação não dependerá desse conhecimento como um fim em si mesmo. Não surtirá efeito se o conhecimento for usado para autoafirmação meramente religiosa no sentido de mostrar quem detém o dom profético. A profecia de Jesus aos discípulos ao mesmo tempo que apresentou os sinais que precederiam sua vinda e o fim do mundo, chamou a atenção deles quanto ao preparo para os dias difíceis, despertando-os para o sentido da perseverança e fidelidade. É indispensável conhecer a vontade de Deus segundo a sua palavra. 

As profecias cessarão; o conhecimento não terá valor; conhecemos em parte, mas quando o conhecimento maior se revelar, todas as especulações humanas não terão valor. O que vai perdurar é o amor. E a profecia já havia revelado a falta de amor nos últimos dias. A profecia sempre exercerá efeito em nossa vida se tivermos amor, pois é o amor que vai permanecer quando todas as profecias forem cumpridas.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A POBREZA DA RIQUEZA

A riqueza  sempre  foi  colocada como um empecilho para se alcançar espiritualidade elevada. Há quem diga de que quanto maior a riqueza para administrar, mais preso a ela o homem fica.
Por outro lado é importante entender que a riqueza enquanto acúmulo de bens, sem que o valor imaterial das conquistas seja observado, a tendência é de que esse “rico” pode ser espiritualmente pobre.  Há ricos, ricos. Há pobres, ricos, e há ricos, pobres, e pobres, pobres. A riqueza não consiste apenas nos bens que uma pessoa adquire, vai  muito  além disso.
A Bíblia revela na carta à Igreja de Laodicéia, de que Deus conhecia suas obras, inclusive sua ostentação e riqueza, mas  a  ela foi dado  o alerta de que era pobre, cega  e nua. (Apocalipse 3:17) 
No contexto do jovem rico, para entrar no céu, teria que vender seus bens e distribuir aos pobres e assim teria um tesouro eterno. Ele foi instigado a exercer a caridade, mas é possível que a caridade como um fim em si mesmo, sem o significado  espiritual, não tenha valor para levar alguém ao céu. (Mateus 19)
A riqueza ou  a  pobreza  mencionado na Bíblia, portanto, não leva em conta o que é material.
O exemplo do homem que guardava em seu celeiro muito mantimento e se alegrava em sua alma por tanta fartura, ao qual se fez a pergunta: “louco, se esta noite pedirem a sua alma, o que tens preparado para quem será?” é um alerta para ensinar que ter apenas recursos para viver bem, não significa que  lhe  será  franqueada a eternidade. A condição de pobre ou rico materialmente não representa absolutamente nada no campo espiritual. (Mateus 12)
Por isso, é tão pecado ser rico ganancioso e egoísta, como ser pobre cobiçoso ou invejoso. A condição monetária do indivíduo por outro lado, pode dar a ele a oportunidade de desenvolver a caridade ou generosidade; enquanto o pobre que retém o pouco do que tem com medo de que lhe falte o que comer, pode torná-lo espiritualmente como aquele que confia apenas em suas forças, assim como o rico que retém suas riquezas com medo do futuro. (Tiago 4:2) 
A riqueza significa libertação espiritual e de conceitos que aprendemos a respeito disso. É muito comum demonizarmos os ricos e santificarmos os pobres, sendo que espiritualmente, ambos podem ser semelhantes em suas ações  proporcionalmente a suas possibilidades.

No Sermão da Montanha, quando Jesus disse que os  “pobres de espírito”  eram felizes, porque esses reconheciam sua dependência de Deus, os que não são orgulhosos. (Mateus 5). Há muitos ricos “pobres de espírito” assim como há muitos pobres, “pobres de espírito”.
Quando o verso lembra que “é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no céu” – não está fechando as portas do céu para o rico, mas revelando, com isso, que o rico precisa deixar todas as cargas e sentimentos que o torna preso ao mundo.
A agulha a que se refere esse verso era uma entrada em Jerusalém usada pelos retardatários, pois as portas da cidade fechavam as seis horas da tarde e somente pela agulha, uma entrada usada como alternativa era possível entrar. Os camelos passavam de joelhos e sem cargas. As cargas precisavam ser retiradas de seus lombos para conseguir passar por aquele espaço apertado.
Quando Jesus repreendeu seus discípulos que reclamaram o valor caríssimo pago por Maria Madalena para ungir seus pés, é porque eles não tinham reconhecido a importância daquele gesto. Jesus não rejeitou o perfume que ungiu seus pés, pouco antes de sua morte, mesmo tendo custado uma fortuna,  mas disse aos discípulos que sugeriram que com o valor poderia ajudar aos pobres, o Mestre os lembrou que os pobres estariam sempre com eles, e que poderiam exercer a caridade.
Não é pecado ser rico, nem pobre. Seria diminuir, reduzir a salvação a coisas referentes a uma condição social. Não significa que um pobre monetariamente seja um pecador, nem que o rico financeiramente seja um desonesto.

Existem meios de se alcançar riquezas materiais. Riqueza tem mais a ver com sabedoria do que com o produto final, que é apenas uma materialização do que o indivíduo sonha e planeja. Especialistas motivacionais e experientes em área das finanças dizem conhecer o caminho da riqueza e segurança financeira, porém, essa questão não está ligada diretamente as coisas espirituais, mas aos objetivos que alguém traça para sua vida e não há nada de pecado nisso até o ponto em que essa busca interfira nas coisas do espírito. Tem a ver com planejamento e técnicas operacionais para ser bem sucedido nessas áreas. A riqueza não está ligada diretamente ao dinheiro, nem a pobreza.  Tem a ver com o que o individuo tem dentro d’alma. “Onde estiver o teu tesouro, ai também estará o teu coração.” 

domingo, 7 de setembro de 2014

VALORIZANDO A MEDIOCRIDADE

Muitos temas em nossa sociedade acabam virando moda, caindo na boca do povo, repercutindo em propostas políticas daqueles que se colocam como defensores de uma sociedade "mais justa e igualitária".
O simples fato da pregação de  que  todos somos iguais revela diferença. E por que a diferença não deveria ser aceitável? É preciso entender que nas relações humanas essa questão deveria estar superada. Tratar as relações sob esse aspecto é algo exageradamente fútil. Por que temos que dizer que ser diferente é normal, em vez de aceitar a diferença como diferença e respeitá-la distintamente? Isso é preconceito? E se dizemos que devemos "passar por cima das diferenças" é admitir que elas não existem? Isso seria preconceito? E quando surge a necessidade de discutir que somos todos iguais, ou que as diferenças existem ou não existem, não haveria de maneira oculta uma "discriminação?"
Até as lutas por união, separam. Não se consegue unificar através de lutas e movimentos. Não se acaba com a discriminação criando facções. O que faz a diferença é o indivíduo se reconhecer: seus valores, suas potencialidades, sua capacidade, seu entendimento de sua parte no coletivo e intimamente.


Por outro lado, cultuam-se as diferenças, como se a diferença precisasse de defesa ou autoafirmação. Há os que usam a palavra “intolerância” por exemplo, como uma maneira de mostrar que os direitos precisam ser respeitados, sem a devida noção do que significa o teor da palavra. Mas ninguém jamais dirá sou tolerante, se ainda não passou pelo teste da provocação. Fala-se em preconceito, atribuindo a palavra apenas ao racismo e ao homossexualismo. Tudo o que ganha destaque de maneira exacerbada, todo o “culto” exagerado, acaba sobrepondo-se à razão, levando o indivíduo a considerar que tudo o que se pareça oposto ao rótulo que entende ser um escudo capaz de protegê-lo contra o desrespeito, deve ser combatido pelos rigores que a lei estabelece. Isso ainda é mostra da “involução” do ser humano em relação a suas percepções e o que ele representa para si mesmo e para a coletividade. Sem essa noção, acaba se transformando em massa de manobra oportunista para fortalecer ainda mais as diferenças, fragmentando a sociedade em grupos distintos, em facções com perímetros demarcados. A manipulação vem de movimentos que se estabelecem para tirar proveito político da situação, fazendo a cabeça das massas consideradas marginalizadas para gritarem por respeito e dignidade. Quem poderá conferir dignidade a alguém senão o seu próprio reconhecimento de ser plenamente atuante, independentemente das atribuições advindas de movimentos e exploração midiática? 



Esses movimentos acabam interferindo na liberdade do indivíduo em sua própria análise de si mesmo, e acaba por ser provocado a reagir segundo as sugestões que recebe como informação sobre suas características físicas, étnicas ou religiosas. Acaba aceitando rótulos e rejeitando outros, de acordo com suas conveniências.
Achei interessante a opinião de Clodovil, o polêmico costureiro homossexual que chegou à Câmara Federal, morto em decorrência de um infarto. Ele declarou numa reunião LGBT que não era favorável ao ativismo Gay. “Não tenho orgulho nenhum de ser gay. Tenho orgulho de ser o que sou” – enfatizou, ressaltando que a família merece respeito e que todas as pessoas surgiram de uma união hetero, homem/mulher. Ouvir tais palavras de uma pessoa que se declarava homossexual é algo que nos leva a imaginar o grau de maturidade que alcançou. O surpreendente de tudo isso é que Clodovil foi vaiado pelos gays que estavam reunidos ouvindo seu discurso. O sistema manipulador, juntamente com seus manipulados tem dificuldade de aceitar pessoas livres, que pensam por si mesmas, com capacidade de analisar o ambiente à sua volta e posicionar-se por suas próprias avaliações. 

O ativismo passa a ser uma forma de autoafirmação, um culto, buscando ocupar um lugar que não existe. A rotulação de algo ou comportamento, ou escolhas e preferências,  e a necessidade de obter respeito de maneira agressiva em sua forma de agir, mostra a imaturidade e a forma manipuladora com que esses grupos vem sendo trabalhado. O ser humano precisa reconhecer-se diante do todo; reconhecer e respeitar-se para que consequentemente alcance respeito. Dignidade não é coisa que se recebe de outros, não é um objeto ou uma dádiva. Dignidade é um sentimento alimentado pela introspecção de seus valores como indivíduo, independentemente do reconhecimento externo.
Ao entrevistar o cantor Agnaldo Timóteo sobre racismo, ele foi categórico ao me afirmar que os negros são os maiores racistas, e admitiu: “Veja os jogadores de futebol negros... eles vivem às voltas com as loiras” – alfinetou, acrescentando que eles fazendo isso, passam uma imagem racista para a sociedade.  “E são eles (os negros) que vivem com a camiseta estampada 100% negro” – complementou.  Para Agnaldo Timóteo, essa é uma maneira de agir que não ajuda a combater o preconceito.
O curioso é saber que Agnaldo Timóteo é negro, e disse ter sofrido discriminação, nem por isso se colocou como vítima. “Esse comportamento de vitimização é falta de autoestima. O negro precisa mostrar que ele é capaz e deixar de lado essa babaquice de se sentir agredido; tem que estudar, tem que ter vontade de acertar, assim como eu fiz e venci na vida como um menino pobre de Caratinga.”

Certa vez um amigo de meu pai que de vez em quando fazia uns serviços lá em casa, disse certa vez: “Eu gosto muito de vocês. Vocês são brancos e me tratam bem; vocês não são racistas.” Pude dizer a ele, que havia tocado num assunto que jamais passou pela minha cabeça. Nunca parei para pensar: sou branco e você é negro. Afinal, por que esse assunto ainda é discutido? 

Quando percebemos que a mídia e políticos trabalham no sentido de “separar” negros de brancos, tendo que recorrer ao rigor da lei para garantir direitos específicos para indivíduos de outra etnia e acentuando a divulgação de palavras e ações racistas, a tendência é exacerbar ainda mais o preconceito e essas ações não surtem nenhum efeito didático, a não ser a força da punição prevista em lei  que não é capaz de mudar o caráter e a educação daqueles, de algum modo, “involuídos” como indivíduos que de igual modo são produzidos e manipulados também por um sistema desagregador e separatista.
Nossos formadores de opinião são oportunamente tão retrógrados  que a defesa para um jogador de futebol chamado de “macaco” por um torcedor descontente, é a frase viral que ocupou as redes sociais: “Somos todos macacos.” É a tentativa de combater um fato com uma mentira, na tentativa de solidarizar-se com o ofendido. Por outro lado é reforçar o xingamento: se somos todos macacos, que ofensa haveria então? Não estaríamos admitindo que o jogador é mesmo um macaco assim como todos? Pura hipocrisia. Jogo de palavras que desviam o olhar da realidade. A supervalorização, o eco, daquilo que é insignificante, passa a ganhar destaque e, de certo modo é um estímulo para que essa questão continue sendo tratada desse jeito: rasa, medíocre, sem propósito.
O que você pensa de si mesmo? Você é aquilo que as pessoas dizem que você é? Você acredita ser exatamente aquilo que as pessoas rotulam?
Você rotula alguém? As pessoas são mesmo o que você diz a respeito delas? Elas são mesmo aquilo que você as rotula? 

Você ainda acha que quem tem aquele cartão de crédito tem o mundo a seus pés? E que sem ele você é nada? Quem reconhece e sabe do seu valor a não ser você mesmo?
Você ainda acha que com aquele carrão do comercial da televisão vai conquistar a mulher dos seus sonhos? 
Assim é a nossa sociedade. Fracionada. Exclusivista. Preconceituosa. E cada parte corre atrás de seus interesses. Não se permita a manipulações. É preciso que você se reconheça diante de tudo isso.

Ainda é preciso amadurecer. E muito. 

sábado, 6 de setembro de 2014

A LEI DE DEUS REVELA O NOSSO CARÁTER

Foi chocante quando um jovem  replicou a ideia de que a Lei de Deus revela o caráter de Deus.  O ponto de partida foi o fato de que Deus não se enquadraria nas determinações da lei que Ele instituiu. A lei de Deus não faz efeito em Deus, porque o seu caráter é justo, puro, santo e perfeito, diante do retrato que a própria lei mostra a nosso próprio respeito. Nenhum mandamento de Deus se aplica a Ele, mas a nós. Portanto, Deus está acima de sua lei, por isso seu julgamento não considera apenas o que está determinado na lei que Ele apresentou à Moisés no Monte Sinai, que foi uma forma direta e didática de controlar e regular as relações entre as pessoas, sem nenhuma perspectiva de mudança de caráter do ser humano. As bênçãos decorrentes da observância da lei é um fato que se resume unicamente pela obediência. Mas isso não torna o indivíduo espiritualmente mais elevado ou privilegiado diante de Deus, pois só a obediência sem o conhecimento da essência de sua observância, pode resumir-se apenas num comportamento condicionado. 
A lei não nos leva à Cristo. A condenação da lei é a morte. O que nos leva à Cristo é o seu chamado.  Foi exatamente isso que Ele tentou fazer os fariseus entenderem. O cumprimento dos ensinamentos de Cristo nos leva a cumprir toda a lei, não o contrário. “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós também a eles, porque esta é a lei e os profetas”. (Mateus 7:12). Nisto se resume o amor a Deus e ao próximo. A lei sem Cristo é morte eterna. E a lei, com Cristo, perde seu sentido real de condenação.
Por outro lado, o fato de Jesus ter cumprido a lei não significa que essa lei instituída por Deus fosse extinta. A morte de Cristo foi a chancela da graça. A lei nos mostra o que somos diante da graça, o nosso caráter pecador, e o que a morte de Cristo significou diante da condenação da lei, porém, não nos retirou a condição de pecadores, e por consequência, enquanto houver transgressor, a lei terá vigor. Podemos considerar a lei como  o “caminho da graça”, é antecedente, um trecho percorrido. A caminhada da fé e da justificação em Cristo, nos afasta cada vez mais da condenação da lei, e quem foi alcançado pela graça superou a lei como um meio de se chegar à salvação.
A condenação da lei, portanto, é aplicada aos que vivem praticando o pecado, logo, estão sob o jugo da lei. A Bíblia fala sobre os praticantes da iniquidade, os que vivem segundo a carne e suas cobiças. E quem está em Cristo é nova criatura e não anda segundo a carne, mas segundo o espírito.
Se não houvesse lei alguma, cada um viveria segundo seu entendimento e suas conveniências, tratando apenas de seus interesses. Imagine se não houvesse a lei que regula a propriedade e que todos os “sem terra” resolvessem invadir e cercar seu território? Imagine se no trânsito todos dirigissem do jeito que achasse melhor?
Certamente aqueles que escapassem das reações e dos acidentes poderiam aprender com a própria experiência de vida. E essa experiência acabaria por abalizar sua conduta. As leis são criadas por causa do caráter do ser humano que se contrapõe aos direitos dos outros. Elas vão surgindo de acordo com a necessidade.
A lei de Deus foi instituída para mostrar a condição do homem, não apenas com base em suas possibilidades e inclinações para o pecado, segundo sua presciência, mas para garantir proteção aos que tivessem acesso à ela e a condenação para os transgressores, mesmo por desconhecê-la. A consequência do erro ocorre mesmo sem o conhecimento do transgressor de suas regras. Qual seria a consequência para aquele que adulterasse contra a mulher do próximo? No mínimo um crime passional como reação ao ato imoral. Mesmo que não houvesse a lei de trânsito, aquele que dirigisse desordenadamente sofreria acidente de percurso. Por isso a essência da lei não se resume apenas em suas determinações. Aqueles que pecam sem lei, também perecem. Esse é o grave problema do legalismo. O legalista está mais preocupado com as letras, com o que a lei determina; até que ponto pode errar para que não incorra nos rigores previstos da lei; onde está a brecha?
Esse é um dos pontos cruciais cujo entendimento vem apenas com a maturidade espiritual, pois, é mais fácil estar adequado a uma determinação legal, o que a lei prevê, apenas, sem nenhum entendimento de sua essência que ultrapassa comportamentos convencionais.  Jesus foi categórico quando disse aos fariseus que aquele que odiasse a seu irmão era o mesmo que cometesse um assassinato contra ele.  Aquele que desejasse a mulher do próximo (não precisava necessariamente cometer o adultério físico), já teria cometido o ato de adultério.
Tornamo-nos legalistas quando desejamos nos autoafirmar pelo cumprimento da lei, de nos acharmos superiores sobre os transgressores. Ora, que mérito há em cumprir a lei?  Se cumprimos a lei, fazemos apenas o que ela determina e não há privilégio nessa ação. É preciso ir além. “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, jamais verão a Deus.”(Mateus 5)
 Conseguimos ver a Deus pela manifestação de seu amor, como Cristo ensinou: “Se lhe pedirem a túnica, dê-lhe também a capa; se lhe pedirem para caminhar  uma  milha, caminhe duas”. A justiça dos fariseus era fria, sem compaixão, mas eles estavam cumprindo seu papel ao fazer o que a lei rezava. Quem os poderia condenar? (Mateus 5:40). Quando de maneira autoafirmativa e exacerbadamente exaltamos a lei, ao mesmo tempo estamos exaltando a maldição que ela representa ao apontar o nosso estado pecaminoso, esquecendo-nos de que é a cruz que nos justifica e que é o sangue de Cristo que nos purifica de todo o pecado. 
O entendimento do que Cristo revelou torna-se grande lição para avaliarmos a nossa conduta diante do que é a lei e do que é a graça. A lei jamais perdeu seu valor, pois ainda não superamos a condição pecadora, porém do mesmo modo, a Graça de Cristo age paralelamente como uma válvula de escape que a lei não oferece: “Porque o salário do pecado é a morte” Mas a vida eterna é o dom gratuito de Deus.  Se estamos debaixo da Graça de Cristo, superamos a condenação da lei enquanto permanecermos sob seus cuidados.  
Pelo caráter da lei somos condenados. Pelo caráter de Deus,  o  amor  revelado  por sua graça seremos salvos. A lei terá seu vigor até o fim, até que a morte e o pecado sejam exterminados para sempre,  mas se estivermos em Cristo, a lei não terá poder condenatório sobre nós.


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

CUMPRIR REGRAS É NECESSÁRIO

Não é possível admitir que um pai cobre do filho uma educação ou que ele corresponda a comportamentos adequados socialmente se ele nunca orientou e instruiu esse filho. As regras e o respeito aos limites precisam ser claros e definidos. Em primeiro lugar vem o ensino que dá o embasamento e a justificativa para que a "cobrança" seja feita depois. É esse respeito que produz harmonia no convívio social. Há muitos que vivem perturbados e sem paz, e ainda provocando a desordem na comunidade em que faz parte, alguns por não terem sido informados, outros por não se adequar as regras de convivência considerando certas regras absurdas. A rotina e as regras fazem parte da construção do caráter humano.

Vivemos um momento em que há mais pessoas buscando seus direitos, não por querer de fato o direito, mas por descontentamento com as regras de conduta. Essas ações, muitas vezes levam a discussão sobre a criação de regras que diminuiriam o poder de ação de outras; uma maneira de colocar suas vontades e conveniências pessoais, acima do que se adequa ao convívio coletivo. 

Nos meus tempos de escola, os alunos tinham que estar no portão as dez para as sete da manhã. As sete horas os alunos entravam e em seguida o portão era fechado. Aqueles que se atrasavam para sair de casa sabiam que ao chegar na escola, encontrariam o portão fechado. A regra funcionava. Até hoje, percebo, aquela geração acostumou-se a cumprir horário. São pontuais, não por um "trauma", mas pela maneira como foi ensinada. 

Há muitos "enfiando o pé na jaca", mas incomodados com os olhares de questionamento, descontentes até mesmo com os que se oferecem a ajudá-los, para os quais dizem: "Quem foi que disse que eu quero tirar o pé da jaca? O que você tem a ver com isso?"
Por outro lado, podem criar movimentos e campanhas para dizer que quem não "enfia o pé na jaca" não sabe o que é ter os pés confortáveis.  

Não há nada de fundamentalismo nas regras. O ser humano é construído; o caráter é formado por comportamentos repetitivos. Não era nenhum constrangimento o pai ou a mãe perguntar ao filho onde conseguiu o objeto que exibia ao chegar em casa. Não há nada de puritanismo nisso. Cuidar da moral e dos bons costumes dos filhos, o respeito à coisa pública e ao próximo, é uma maneira de fazer bons cidadãos para a sociedade. Ensinar aos filhos que "do suor do seu rosto deve comer", significa que o sustento vem pelo trabalho de suas mãos, e isso não significa ser "escravo" do sistema, mas livre da maldição da preguiça e da penúria. E que do fruto de seu trabalho deve viver com a consciência de que foi colhido com dignidade e honestidade, sem desviá-lo do olhar solidário. Incentivá-lo a estudar e dar a ele as bases para uma vida independente, não é torná-lo arrogante e superior aos demais. 

Esses dias, eu fazia um barulho em casa por consertar algo, e meu filho disse: "Pai, para com esse barulho. Está me incomodando." 

Naquele momento, eu parei, olhei para ele e o ensinei. Disse ao meu filho que a convivência depende de respeito. O barulho que eu fazia era uma necessidade e eu não devia parar apenas porque era um incômodo para ele e que isso ele devia compreender. Continuei a orientá-lo, dizendo que no mundo vamos conviver com muitos barulhos, com muita gente que pode até fazer coisas que nos incomodam, mas precisamos aprender que o mundo não gira em torno de nós, e que fazemos parte dessa sociedade. 

Já imaginou se pudéssemos descartar tudo o que nos incomoda? Já imaginou se a nossa verdade, o nosso desejo, a nossa conveniência fossem o motivo para mudar o meio em que vivemos para que tudo se adeque aos nossos interesses, sobrepondo aos interesses dos outros? 

Temo que essa sombra esteja diante de nós. Parece que hoje em dia o desejo individual é uma ordem, independentemente da compreensão que devemos ter dos direitos do outro. É uma mentalidade sociopata, psicopata que vem sendo desenvolvida aos poucos por falta de base na educação de berço, de pais que refreiem as inclinações que parecem naturais do ser humano que se baseia no egoísmo, no egocentrismo. 

Certa vez uma família contratou uma cozinheira. Ela era famosa por sua feijoada, sempre elogiada e reconhecida pelo prato que fazia. Seus ex-patrões diziam que não havia uma feijoada como a dela. 

Ao fazer o mesmo prato para os novos patrões, ela não teve o mesmo reconhecimento. Ela foi chamada e o novo patrão explicou a ela como queria que o feijão fosse preparado. 

-Mas ninguém nunca reclamou do meu feijão! Meus ex-patrões adoravam minha feijoada - replicou a cozinheira. 

-Mas eu prefiro que você faça da maneira como lhe expliquei - considerou o atual patrão. 

A convivência e as relações precisam ser flexíveis, e isso ocorre quando deixamos de ver apenas o nosso lado, mas considerando o lado do outro. Quando a vontade pessoal sobrepõe a interesses coletivos e a partir desse ponto inicia-se a criação de instrumentos para favorecimento unilateral ou de grupos distintos, a sociedade estará dividida entre conceitos e preconceitos; em princípios e hábitos e costumes, cada qual tentando sobrepor-se ao outro. A convivência é estremecida.

A convivência social saudável precisa ser harmoniosa e não cabe o discurso: "eu sou dono do meu nariz e ninguém tem nada a ver com isso." Se por um lado esse pensamento mostra uma repulsa aos padrões da convivência, por outro lado, pode ser um elemento de desconstrução da paz social. É importante ressaltar que a desordem é contagiante; o ambiente de contendas é afetado por descontentamento, que deve ser avaliado, principalmente, por quem se vê descontente. É necessário avaliar suas razões, admitir seu papel diante do todo.