quarta-feira, 22 de outubro de 2014

SABIÁ NA ARAPUCA

O criminoso "mais digno" em sua indignidade é aquele que surpreende com sua ação direta. Não deixa dúvida a seu próprio respeito. Certa vez assistia a um programa policial em que uma golpista se misturava com pessoas nas filas dos bancos, conversava, fazia amizade. Acabava saindo da agência acompanhando a futura vítima, pegava o mesmo ônibus, oferecia um bombom com sonífero. A vítima dormia enquanto era roubada. 
É assim que ocorre em diversas áreas. Primeiro a confiança, a manipulação e o golpe. 
A primeira vez que tentei colocar cabresto no potro que meu pai comprou para mim e o meu irmão foi desastrosa. O potro resistiu, correu; para eu chegar perto dele de novo foi um outro desafio. Tive que esconder o cabresto e me aproximar devagar, sem assustá-lo. Meu pai orientou que eu não fizesse movimentos bruscos e aos poucos ir tentando colocar o cabresto novamente.

A insistência tinha um objetivo. Queríamos ter o controle do animal. Levá-lo para onde queríamos que ele fosse. E assim aconteceu. A estratégia deu certo. Amansá-lo primeiro; anular sua resistência. 

As sabiás visitavam todos os dias os pés de pitanga do sítio de meu pai. Eu queria vê-la de perto, senti-la na mão. Assim fizemos uma arapuca. Mas com o que atrairíamos a sabiá?  Com as pitangas? Ora, ela tinha por perto o pé de pitanga carregados da fruta madura. 

Mas pensando no propósito, armamos a arapuca em outra parte do sítio para que a sabiá alcançasse primeiro as pitangas na entrada da arapuca. E assim aconteceu. Bem próximo havia um pé de pitanga carregado de frutas, mas ela caiu na arapuca. Finalmente matei minha curiosidade e soltei o pássaro que voou rapidamente para o galho da pitangueira. 

A sabiá não sabia da minha intenção. Mas eu sabia o que estava fazendo. 
As galinhas e os franguinhos corriam ao meu encontro todos os dias que eu chegava pela manhã e ficavam ao meu redor, porque era eu que levava seu milho. Eu adentrava e as aves iam atrás de mim.  
Mas é assim: o peixe para ser fisgado precisa morder a isca do pescador. 
Para mim isso foi lição prática de que para conseguir o que quer, precisa usar métodos. E são vários, levando em conta os variados interesses. 

Quantos há que agem assim, não com animais e passarinhos, mas com pessoas desprovidas de malícia ou de experiências anteriores que as tornem mais cautelosas? 

Manipuladores tem o perfil de se aproximar, criando inimigos "ocultos" para justificar seu discurso de proteção e amizade.  O rival do inimigo imaginário tenta derrubá-lo numa arena ilusória, para obter, de verdade o que deseja; levantar suspeitas; colocar dúvidas, sem querer parecer, no fundo, que é ele o inimigo.  

É provável que pessoas com intenções escusas, primeiro trabalha para "ganhar a confiança." Com a confiança, a vulnerabilidade torna-se um elemento importante para a próxima investida. Para isso, usa-se máscaras. A máscara é apenas uma "ferramenta" que trabalha a favor de quem se disfarça para conseguir o que pretende. Isso pode levar tempo, mas é uma ação contínua, insistente e em muitos casos quando a ficha cai, é tarde demais. 

Mas uma coisa é importante: os que vivem se desculpando de erros cometidos, fazendo-se de vítimas do sistema; os que tentam manipular pessoas a seu favor, desviando o olhar de seus atos errôneos para minimizar suas responsabilidades, podem estar escondendo intenções piores a longo prazo. 

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