sábado, 31 de dezembro de 2011

A ALEGRIA É ESSENCIAL


Uma marca de refrigerante postou uma enquete perguntando o que as pessoas gostariam de ter no ano novo, entre as opções: paz, saúde e alegria.

Fiquei observando a estatística da enquete,  que  na verdade não tem valor científico, mas, de algum modo, aponta o que as pessoas de um modo  compartilhado  desejam.

Alegria vem em primeiro lugar; seguido de saúde; a paz vem em última colocação, segundo a votação da enquete.
Alegria é imaculada

Isso mostra o grande interesse que temos pela alegria. Podemos até perguntar:  mas como alcançá-la, sem  paz e sem  saúde?

É bem verdade que o desejo maior é pela alegria, mas seu alcance depende de elementos dos quais não temos o controle. É por tentar controlar a alegria por nossos métodos, que deixamos de vivê-la essencialmente. E também é verdade, que momentos alegres poderemos viver diante do que gostamos de fazer ou sentir.  Nesse ponto é que devemos dar atenção. Quando busca-se a alegria como um fim, apenas, desprezando seu princípio, poderemos sim, viver uma alegria fugaz.  E parece que é essa alegria que todos nós conhecemos, e é esta que é sugerida. Passamos, com isso, viver em torno de uma ideia coletiva de que ela precisa ser provocada de alguma maneira. Criamos situações e elementos que estimulem essa alegria. A alegria de momento. Sim, essa alegria é aquela produzida pelas sensações imediatas, no momento em que pensamos unicamente em nossa satisfação.

Aliás, ninguém pode sentir sua alegria. A satisfação é sua. Se o motivo da sua alegria é a alegria dos outros, poderá em certo momento, sentir-se desmotivado. É algo pessoal. Você pode até contagiar aos outros, mas dificilmente os outros sentirão essa alegria  como você sente. Podemos ser alegres, até por uma sugestão externa, mas cada indivíduo, de acordo com suas sensações e percepções, decodifica os signos (sinais)  conforme a maneira de identificá-los. Há alegria coletiva. Essa vem por sugestões. Mas nem sempre ela alcança a todos de maneira uniformizada. Cada indivíduo tem seus motivos particulares. A alegria solitária dificilmente poderá ser entendida pelos outros. É aquela sensação que sente o coração com a imaginação de boas lembranças; de uma frase de alguém; dos gestos de um filho. As vezes rimos sozinhos, e ninguém tem noção do que isso significa.
A vida tem seus próprios motivos para alegrar


Mas essa é a alegria que fica. Alegria é algo espiritualizado, que se impregna no coração da gente. Podemos viver essa alegria, em todos os momentos, porque já faz parte da nossa vida. São as impressões positivas que sobrepõem àquilo que podem causar tristeza. Alegria é um foco. Nela devemos  mirar para desviar o olhar das coisas que nos machucam. É algo inexplicável, alheio às questões físicas.

Não é como o conto de uma piada que precisamos entender para rir. Não são as gargalhadas da platéia orquestrada por um animador que acaba contagiando a todos.

Alegria não se discute. Alegria se vive. E vivemos essa alegria, simplesmente  porque  estamos  presentes. Alegria é preexistente. Ela é essência, não um resultado – é como o desabrochar da flor e o nascer do sol, que não regem em si mesmos a força vital. É como o brotar de uma semente, que por si mesma não tem controle.
Em busca de alegria
criamos mecanismos para provocá-la


A alegria que temos só toma outros rumos, quando tentamos controlá-la. É o mesmo poder  regente  do Universo, que rege a alegria de viver. Porque alegria, é a vida em sua essência.  Quem poderá explicar?

Controlamos a alegria, quando tentamos buscar um meio para abrigá-la.  Fazemos à nossa maneira. Provocamos do nosso jeito. Alegria é pura, como  a pureza de uma criança que nasce.

RECEITA DE FELICIDADE


A fórmula da Coca-cola é guardada em cofre de banco para que  nenhum concorrente tenha acesso. Imagine agora, se a felicidade tivesse a fórmula sob o poder de algum homem? Ele poderia ser o mais poderoso do mundo, onde todos buscam a mesma coisa.  Mas a fórmula da felicidade é imaterial, nem pode ser base de experimentos em laboratório. O caminho para a felicidade é único. Por ser algo abstrato, cada indivíduo passa a projetá-la do seu jeito e, cada um a sua moda, encontra uma maneira de ser feliz, mas parece não ser suficiente.

A felicidade não será encontrada ao toque das mãos
Em 1931 estreou Em Busca da Felicidade a primeira novela do rádio brasileiro. A busca da felicidade parece ser insaciável no ser humano. E isso revela a essência da nossa alma, pois fomos criados por Deus para sermos felizes. Mas a felicidade não deve ser perseguida como um fim em si mesmo. Há  os que tentam vender a idéia de uma felicidade possível com propostas rasas por meio dos relacionamentos, divertimentos, a conquista de sonhos e realização de projetos. Aprendemos  associar felicidade a alguma realização material. Isso certamente pode nos dá prazer, satisfação e um entendimento de que a felicidade foi alcançada.

Mas o prazer que alguém sente ao tomar um copo de cerveja, dura até o último gole. O prazer que a adrenalina provoca dura apenas algum instante. Todo o prazer e felicidades que forçamos ou provocamos deixa de ser um prazer saudável. Os que buscam prazer nas drogas, podem viver inicialmente a sensação de leveza, mas que precede a depressão e tristeza profunda, fazendo da droga uma “muleta”.


O prazer da sensação de viver uma aventura, dura até que a aventura passe.


Adrenalina tornou-se sinônimo de momentos felizes


Na insaciedade da satisfação desses desejos, o  ser  humano  gasta tempo procurando alguma coisa mais forte para preencher essa carência. Mas todos os prazeres e alegrias se acabam com o apagar das luzes, com o desligar do som, com as despedidas...

O que faria você feliz? Para cada pessoa a resposta é diferente, pois os sonhos são muitos. Qual é a receita da felicidade? Podemos ter disponíveis todos os ingredientes, mas cada um tenta produzir essa felicidade com seu próprio modo de fazer, do seu jeito. Aliás, o “Viva do seu jeito”, é uma vocativa irresponsável da parte de quem intima.

Isso pode gerar efeitos desastrosos para uns e bons para outros. É por isso que a busca da felicidade virou um laboratório de experimentos, cujos resultados nunca satisfazem. Se o modo de fazer dessa receita não for utilizado corretamente, a busca da felicidade será apenas frustração,  cansaço, enfado; produzirá ansiedade, angústia, medo, insatisfação.

Parece que é assim que a maioria das pessoas vive hoje em dia. Carregam fardos desnecessários que enfraquecem o espírito. As energias que gastamos em busca da felicidade precisa ser canalizada de maneira correta, de acordo com a proposta do nosso Criador.
Não faltam sugestões que nos façam acreditar que a
felicidade pode ser alcançada


É preciso estar disposto humildemente a cumprir as regras, respeitar os limites, fazer a nossa parte. O cantor Elvis Presley foi um grande talento da música popular. O sonho dele era  ser rico, famoso e feliz. Ele tinha todos os ingredientes da receita.

Certa vez numa entrevista perguntaram a ele: você conseguiu ficar rico e famoso. Você é feliz? – Elvis Respondeu: “Vivo em uma solidão infernal”.

Felicidade está além das realizações e dos sonhos que conquistamos.

Se o alvo da nossa felicidade está nas aquisições materiais, ela durará até a conquista. É no apagar das luzes e no recolhimento em nosso travesseiro que revelaremos a nós mesmos o que  vai  no nosso coração. Se o nosso coração estiver em coisas passageiras, limitada será a felicidade. É preciso mais. Precisamos de felicidade plena.  

O caminho da felicidade é abstrato,
mas essencialmente real.
jamais poderá ser construído por nossas mãos
Pois ele já está aberto.  
Preste atenção no  que disse Jesus: O ladrão veio para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e vida em abundância.

O que tem sido o ladrão da sua paz, da sua tranqüilidade e sossego?

O que tem lhe roubado as energias  por  uma  busca insaciável por felicidade?

O conselho é: Sinta prazer em Deus, e Ele concederá os desejos do Teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, Confia nEle, e o mais Ele fará. Este é o princípio da felicidade sem fim.

Este é o modo de fazer, da receita da felicidade. É único e infalível e ao acesso de todos. 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

OS CRIADORES DE COBRA

Lembro-me bem de uma história que meu pai certa vez me contou. Minha curiosidade a respeito do nome de um lugarejo do interior, onde ele tinha amigos, o levou a me explicar a origem do nome do lugar: “arranca tripa”.
Os que "apunhalam" pelas costas
são sempre os que estão por perto

Contava-me ele que havia nas redondezas um homem muito violento, temido por todos. Quando ele passava com o seu cavalo, muitos homens simples, trabalhadores da roça, tiravam o chapéu, em sinal de “respeito”.  Todos abriam caminho para ele passar. Quando   chegava  em  algum lugar onde as pessoas faziam festa, ao notarem sua presença, todos ficavam em silêncio, até que ele dava a ordem para continuarem.

Nos botequins onde apeava de seu cavalo, bebia e comia sem pagar. Se alguém olhasse em seus olhos, era capaz de matar. Assim o  fez  certa vez, a um homem que o questionou, por que as pessoas o temiam. Sempre armado com uma garrucha e um punhal bem afiado, suas botas com espora, cinturão de couro com fivela grande e um enorme chapéu na cabeça,  sua presença era sempre uma ameaça. Homem de poucas palavras, que parecia maquinar o mal o tempo todo. Foi assim que antes de matar aquele pobre homem, o embriagou. Pegou uma garrafa de cachaça, encheu o copo, raspou suas unhas e misturou o pó  à bebida e forçou o pobre homem a beber. Foi assim, que depois de atordoado, foi morto, sem dó nem piedade,  na frente das pessoas que ali estavam. Ninguém ousou falar nada. Todos, de igual modo em silêncio, num misto de revolta e medo.   A injustiça ali, se fortalecia com a "lei do silêncio". Afinal, todos que ali estavam foram testemunhas e, qualquer perseguição que o criminoso sofresse, saberia de onde partiu. Sua vingança certamente seria cruel.

Um menino, vizinho daquela vendinha, assistiu a tudo pela freha da cerca de bambu do quintal de seu barraco. Devia ter seus 09 anos de idade. Ele ficou chocado com aquela cena sangrenta, num ato violento gratuito.

Passadas algumas semanas, o homem voltou ao mesmo local. Lá estava o menino, o pai dele e outros homens, que saíram das lavouras para comerem alguma coisa. Outros faziam compras para casa, na  vendinha do seu Juca, a única que havia nas redondezas. 

Todos ficaram temerosos com a aproximação daquele homem. Ele apeou, desceu como de costume pedindo uma bebida. Dessa vez, ele embriagou-se a ponto de apoiar-se no balcão daquele botequim, quase a cair. O menino estava de olho em seu punhal embainhado na cintura. Foi quando num momento vulnerável, surpreendentemente o menino arrancou-lhe o punhal da cintura, ferindo-o com violência na barriga. O ferimento foi grave. As tripas ficaram expostas. E ele ali, agonizante começava a puxar as vísceras para fora. Ali, ele morreu,  nas mãos de um menino. Daí o nome do lugarejo: "arranca tripa", que relembrava esse eposódio.

Um homem que todos temiam. Um homem  que  fez inimigos, mas nenhum deles se atreveu a enfrentá-lo. Foi um menino, a quem ninguém esperava. Ainda criança, tornou-se um assassino, depois de ver aquele homem de má indole e cruel, praticar tanta maldade contra pessoas indefesas e inocentes, por puro prazer.  
Dificilmente somos unanimidade.
O poder alcançado  por defesa de interesses pessoais
causa muitos estragos no caminho da subida.


É uma história violenta, sangrenta, mas a nossa história está cheia de ocorrências desse tipo.

Quando os grandes se exaltam, uma pedrinha, apenas uma pedra, atirada no momento certo, é capaz de derrubá-los. Nem sempre isso ocorre com estranhos. As vezes, com pessoas próximas.

No sistema político, onde se acirra a luta pelo poder, e a sinceridade e transparência passam ao longe,  todos tornam-se vulneráveis, principalmente os que fazem do poder, um meio de usar pessoas. Criam aliados, que de fato, conhecem as intenções de seus criadores, participam de suas maldades, compactuam com suas sandices, também com interesses escusos de conseguirem alcançar seus objetivos. É um enganando o outro. Dificilmente, pessoas não confiáveis confiam  nos outros. Por um lado, se promovem e exaltam suas crias para satisfazerem suas vontades, por outro lado, essas “crias” sabem que estão sendo usadas. A cobrança pode ser dura. Aqueles que parecem inofensivos no âmbito do poder, são, muitas vezes, os responsáveis pela queda de muitos. São os que comem do mesmo prato; compartilham apertos de mão; elogiam-se mutuamente diante dos outros, mas no fundo, são capazes de revelarem-se grandes desafetos. Os que trabalham injustamente, prejudicando aqueles que pensam ser ameaça aos seus planos, precisam estar alertas. Por fim, podem ser picados pela própria cobra que ajudaram a criar.  Em todo o sistema político, essa é a fórmula. Usar pessoas para alcançarem seus objetivos. A uns, conquistam por benesses oferecidas e promessas de crescimento; a outros com promoção pessoal e status. Dessa forma, arregimentam aliados interesseiros, não a adesão de pessoas que compactuam com suas fórmulas e defendem suas idéias. Todo aquele que se sustenta por essa filosofia, constrói castelos de areia. 

As mesmas mãos que se unem, se afastam,
quando o mais influente
impõe suas regras.
Verdade, transparência, sinceridade, podem excluir muitos desse âmbito de política e jogo do poder por entenderem estar sendo usados. Os justos não resistem, e pagam  a pena. São pisados, humilhados, porque tem ideais elevados  e  nobres. Mas, esses, jamais correrão o risco de serem abatidos por quem menos se espera. Pelo contrário, sua visão mais elevada, identifica de, fato, quem são seus inimigos. Pela sensibilidade imune a sujeira que embaça a consciência, são suficientemente capazes de ler os olhos dos que não os desejam por perto.   É essa percepção que os afasta, esfriando as relações ou, são afastados pela postura alheia a esses interesses.


As "cobras criadas" pela política, tem os olhos abertos para a ambição, despertando seus mais baixos sentimentos egoistas. Esses répteis, podem fazer de tudo para concretizar seus objetivos, até mesmo atacar seu próprio criador. Só o tempo dirá quem é quem nesse jogo. O certo é que nesse jogo, é cobra engolindo cobra. É a mais forte que prevalece, até que outra mais forte a engula. Mas, pode ser até aquela cobrinha inofensiva, um filhote enrolado no canto da parede, da qual menos se espera um ataque. 

MINHA LISTA DE PRIORIDADES

Ele pegou a lista de prioridades que havia feito no fim do ano passado. Estava seguindo a orientação de que para as coisas funcionarem e acontecerem na vida, era preciso ser prático, ágil, pois a vida corria com muita rapidez, e que a realização dependeria das atitudes.

Você tem uma folha de papel
para escrever a sua história
Seguiu à risca. Sentia prazer em cada pequena realização; a cada passo que dava, a cada recurso economizado. Cada detalhe era importante para ele.  Foi a  valorização das pequenas coisas, que tornou seu sonho um alvo a ser alcançado. Havia determinado que neste ano compraria um carro novo, e isso anotou com letras garrafais em sua lista de prioridades e, ao pegar suas anotações recentemente,  riscou essa meta, sinalizando que  seu sonho havia sido realizado. Ele trabalhou duramente por seis meses, para juntar recursos e pagar o automóvel a vista para seu orgulho. 


Mas enquanto trabalhava incansavelmente com essa finalidade, dormiu mal; comeu mal; descansou pouco; a família não recebeu a assistência devida. Agora, estavam todos felizes com o carro novo. Mas outra meta ele precisava cumprir. 


Seu pai adoeceu, e soube da doença do pai ainda no período em que estava atarefado em seu trabalho, lutando por cumprir sua prioridade deste ano anotada naquele papelzinho branco. Seu irmão precisou de ajuda para reconstruir parte de sua casa afetada pela chuva; o filho sentia a falta do pai, que quase não o via. Quando saía para o trabalho, o filho estava dormindo; quando voltava, encontrava o filho dormindo.

Ele não conseguiu cumprir a etapa que colocou no papel: Ele queria reformar a casa; comprar os brinquedos que o filho pedia; a nova máquina de lavar da esposa. Tornou-se escravo do trabalho. Acumulou estresse e ansiedade. Mas todo o esforço valeu a pena para o propósito que abraçou. 

Ele pensou colocar em prática outras metas, mas descobriu que a vida não é como uma fórmula matemática. Ele aprendeu que tudo na vida é importante: o começo, a caminhada e o fim. Mas a sensação de realização, dura muito pouco - menos do que o tempo empregado para alcançar o objetivo. 


Mas, diante disso ele percebeu, que nada na vida é definido, ainda que os planos e metas sejam cumpridos. Há sempre algo a mais para ser feito. E entendeu, também, que estava lidando com pessoas, com sentimentos. Não estava lidando com coisas que podem ser substituídas ou adiadas.  Lamentou por  não ter conseguido encontrar o tal equilíbrio e, ao mesmo tempo conseguir o que desejava.


Em sua escala de prioridades, ele esqueceu de colocar que precisava, além de buscar seus sonhos, viver melhor; relacionar-se com a família; dar atenção ao filho.
A felicidade de estar presente tabém é motivo
para comemorar


E confessou que a sensação de felicidade por uma conquista, dura pouco tempo. A boa sensação da conquista de um carro novo, termina logo na primeira viagem.. 


Mas do tempo empregado, o que sobra depois de tanto trabalho, é insuficiente para aproveitar as coisas simples da vida. Tomar um sorvete no parque; andar de bicicleta; fazer uma caminhada; passear com os filhos; conversar com amigos; comprar o jornal na banca; ir à padaria...

Estamos chegando ao fim de mais um ano. 


Veja em sua lista o que fez; coloque na balança e alegre-se com o que lhe restou.  Você pode até não ter conseguido realizar tudo o que planejou. Mas se sobrou amor, carinho, atenção, saúde, paz e harmonia, todo o esforço valeu a pena. Ame mais e será amado; busque na simplicidade de viver, a alegria que se perde em meio a sofisticação dos desejos sugeridos; 
veja no sorriso despretensioso de uma criança, o motivo para acreditar no amor e na esperança em meio às preocupações que nos roubam a fé. Viva feliz, com a certeza de que Deus cuida de você; os seus sonhos nas mãos dEle, serão verdadeiramente realizados.

Sua vida não se resume a agenda anual ou em lista de prioridades. Não existe um botãozinho of/off para ligar e desligar; programar e desprogramar. A vida segue seu ciclo. Os frutos de nossas ações nos acompanham durante toda a existência. O mais importante é alcançar sabedoria. Mas em tudo, saiba valorizar cada realização; cada dia vivido é tão importante como o nascimento. Cada passo que damos, é tão importante quanto o sabor da vitória pela  chegada. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O QUE UM BÊBADO ME ENSINOU

“Não se mete com política”
Estender “tapete vermelho” para que um “figurão” passe, enquanto que no caminho dos simples  espalha-se obstáculos, mostra-se atitude desumana.

Dificilmente se alcança o poder na terra
sem abrir mão dos princípios
 Ele era conhecido apenas por Valdir. Para alguns era um bebum, que vivia cambaleando pelas ruas, sem perspectiva de vida. Porém, para as crianças, ele era o artista do bairro, uma verdadeira figura folclórica. Aliás, para aquele bairro simples, sem ruas asfaltadas, sem linha telefônica e água encanada, sem praças e parques de diversões, Valdir era a atração. Bastava pegar sua flauta e começar a soprar. Ele era um verdadeiro perito no instrumento; tocava de músicas clássicas a hinos evangélicos populares. Não bastasse o instrumento, ele tinha um vozeirão, que quando começava a cantar em estilo ópera, era ouvido à distância. Valdir lamentava não estar mais nos palcos dos grandes teatros da época em que brilhou, nem por detrás dos microfones de emissoras onde se apresentava em programas de auditório, mas fez das ruas daquele pobre bairro o seu palco; as crianças, apenas, eram sua platéia. Algumas pessoas os  achava mais um “chato”, um bêbado iludido,  metido a artista, sem ter um lugar onde cair morto. Muitos não conseguiam ver o talento que ele tinha, pois sua aparência era um “ruído”, perdida em meio ao som que produzia. Era como pérola entremeada ao lamaçal da estrada.


Jesus não se aliou ao poder da Terra
para alcançar prestígio humano
Ele orgulhava-se em dizer que fora um artista dos anos dourados do rádio-teatro. Mas entristecia-se ao lembrar que mulher e bebida acabaram com o pouco que começara a conquistar como um artista de grande futuro. O que lhe restou foi uma sobrevivência que se resumia a prestação de pequenos favores a donos de botequins em troca de doses de cachaça; limpava os terrenos da vizinhança em troca de prato de comida. Assim levava a vida aquele velho sonhador com coração de estrela. Ele jamais perdeu a pose.

Despojado de bens, sobra o que somos.


Certa vez o encontrei na rua. Eu voltava da escola e já era noite. Ele ia à mesma direção em que eu seguia, e apertei os passos para alcançá-lo. Valdir estava descalço, com uma bermuda velha, sem camisa, e com um cheiro de cachaça curtida. Foi naquela noite fria, num mês de junho, esfregando uma mão na outra para se aquecer, que ele disse a mim a primeira de tantas outras vezes: - “radialista, não se mete com política; você vai ter oportunidade de lidar com muita gente importante, mas não se mete com política, faça o seu trabalho”.

Eu não sei se ele havia tido alguma experiência ruim com “política”, mas ele falava como se tivesse sofrido com isso. Naquele momento eu não entendi o porquê de sua preocupação em me dizer aquelas palavras, mas fiquei pensativo. Todas as vezes que eu o encontrava no caminho ele dizia: “radialista, não se mete com política”.

Eu estava recém chegado no rádio e começava a ficar conhecido no bairro. Com a experiência que estava adquirindo, passei a prestar atenção na maneira como as pessoas se relacionavam com o trabalho, com os cargos que ocupavam e o poder de decisão que alguns tinham.


Dificilmente sabe-se ao certo o que ocorre numa sala
para decidir o futuro das pessoas.
A política pode ser usada para promover ou promover-se, e muitos usam esse recurso mais para a autopromoção do que para a promoção; outros para ficar de bem com todos, deixando de expressar-se com sinceridade.  Onde usa-se política  em busca de algum resultado, ali pode estar faltando verdade, fidelidade, integridade. Para sustentar auto-interesse, esse “político” é capaz de negociar até consciência para conquistar o que deseja. É capaz de fazer até o que não acredita e vender uma idéia que nunca defendeu. Na política existem acordos, pacto de lealdade, há códigos de ética a serem cumpridos. Mas nem sempre cumprir um acordo significa agir dentro da moralidade. Há coisas que se tornam legais no âmbito do interesse de um grupo específico, mas que são abomináveis, no aspecto essencial. Ser leal a uma idéia ou a alguém, nem sempre significa ser honesto com a própria consciência.

Hoje   os pregadores da “inteligência emocional”, adotando a filosofia de que é preciso criar imunidade para que essas coisas não nos afetem. Por outro lado, há também conselhos para fazermos “vista grossa” diante dessas questões. Nesse ponto, corremos o risco de ser como um deles pela condescendência, unicamente com o objetivo de livrar a nossa pele e permanecermos aonde estamos, talvez “usufruindo” os benefícios e calmaria de uma zona de conforto.    

Creio que onde é necessário recorrer ao jeitinho, jogo de cintura e política  para conseguir promover ou conquistar alguma coisa, é preciso saber a quem estamos recorrendo ou que tipo de proposta estamos apresentando, e que comportamento adotamos diante disso. É importante que semeemos a nossa semente em todos os lugares possíveis. Mas semente de transformação, que façam a diferença.

Quando somos orientados a tratar certas pessoas com distinção, principalmente aquelas apontadas como “superiores”, podemos perceber a falta de trato sincero. Esse trato condicional pode revelar apenas interesses pessoais, por alguém que de alguma maneira poderá ser canal de algum benefício nesse sentido. Estender “tapete vermelho” para que um “figurão” passe, enquanto que no caminho dos simples espalha-se obstáculos, é atitude desumana. Por outro lado, os que detêm o poder e agem de maneira opressora, desrespeitosa e desumana, podem estar despertando em seus liderados um respeito imposto e consequentemente atraem esse mesmo sentimento.

Não há vitória mais justa do que
a conquista com igualdade
de oportunidade
Os que se sentem poderosos porque ocupam uma confortável cadeira e dizem não, fecham portas, restringem acessos, e burocratizam o que deveriam facilitar para obter reconhecimento de seu poderio, podem estar agindo de maneira equivocada. Nesse caso, a aproximação de seus liderados se dá através de bajulações e dissimulações, pois falta uma abertura sincera e sem “joguetes” para esse contato. As relações entram num círculo vicioso de “jogo”, e isso leva a quebra de confiança uns nos outros. Há os que para acharem-se poderosos, tendem a supervalorizar as restrições, até mesmo por temer a perda de controle sobre o grupo. Manter um clima de “mistério” pela falta de verdade, acaba por atravancar o avanço e desestabilizar as relações com os liderados.  

O termo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, já mostra a falta de trato sincero, e o comportamento subserviente que os comandados devem adotar, é apenas um mecanismo de defesa.  Por outro lado, analisando, nem todos os que “mandam” apresentam esse juízo; há os que agem de maneira inconseqüente como aquele filho que põe a mão na herança sem considerar o sacrifício do pai para construí-la. Simplesmente podem e mandam muitas vezes guiados por seus caprichos sem uma visão justa da causa que recebeu em mãos.

Quando agimos com sinceridade no trato com as pessoas, sem distinção, com respeito ao ser humano; quando agimos com honestidade, decência e solidariedade e, sobretudo, quando desenvolvemos o amor pelas pessoas, a tendência é sermos bem aceitos em qualquer lugar, pois no fundo, todo ser humano procura essas virtudes e qualidades, porém, há os que “fraquejam” diante das tentações de terem que agir de maneira conveniente, usando as mesmas armas do “inimigo” para conseguir aprovação.

Sem fazer apologia ao alcoolismo, “não se mete com política” foi a frase de um bêbado, mas em seu estado etílico, esse homem demonstrou uma sobriedade de muito poucos, envolvidos com as buscas e disputas meramente interesseiras, embriagados com o vinho das ambições banais.

Dificilmente os que não se metem com política conseguem alcançar postos de destaque, pois não aceitariam tomar decisões que não tomariam fora da esfera do poder, ou pensar o que não pensariam do lado de cá. Do outro lado, teriam que mudar o discurso para não contrariar certos interesses simplesmente para se protegerem.  

É incerto e imprevisível o que uma pessoa é capaz de fazer nos bastidores do poder, para manter-se no cargo e benquisto pelos superiores. Dificilmente alguém se arriscaria contrariar interesses da maioria, pois poderia lhe custar caro.  Os acordos são um meio de estar de bem com o grupo. De certo modo, quem participa dessa “política”, coloca muito peso sobre os ombros. Há forte desgaste emocional, pois de algum modo o indivíduo acaba “represando” o que sente diante daquilo que pensa em relação ao que o posto lhe obriga a fazer. Falar a sua verdade pode custar muito caro.  Se a verdade e a sinceridade fossem práticas comuns e aceitas em todos os setores da vida, não seria necessário o estabelecimento de regras de conduta ou comportamento ético. Nesse contexto é preciso deixar de ser como somos para adotar um modelo criado pelo grupo e, consequentemente o indivíduo é tentado a “disfarçar” seus sentimentos e percepções para que obtenha essa aceitação, ou auto-proteção. Crescemos ouvindo que devemos aceitar as pessoas como elas são, mas na prática ninguém se prepara para isso.   E é por causa disso que as máscaras sociais acabam pesando com o tempo e causam estragos emocionais desastrosos quando começam a cair e desnudar a face real de quem se sustentou por trás delas.

É admissível que essas pressões levem o indivíduo a problemas psicológicos e de estima, ansiedade e depressão, pela necessidade imposta  à adequação  de  certos modelos. Nesse contexto pessoas são vistas como concorrentes e  a  ascenção de uns, pode tornar-se ameaça para outros; para alcançar o patamar desejado, outros são derrubados ou severamente prejudicados de diversas maneiras direta ou indiretamente. Não há “inteligência emocional” que cure as feridas de nossos valores ou nos convença de que é possível viver nessa sociedade de maneira passiva, no momento  em  que  os valores precisam ser “reconstruídos”.

Aqueles que, por consciência solidária ou por convicções morais se recusam a usar as mesmas armas para sobreviver à essa demanda, corre o risco de serem “atropelados” em seu próprio caminho invadido por oportunistas  à espreita. Ouvimos orientações de grandes motivadores de mercado que não devemos respeitar portas fechadas. É preciso ser ousado para conquistar o que queremos. Mas essa “ousadia” nem sempre é compreendida apenas como coragem, e ultrapassa os limites da ética e do respeito ao outro. A vitória acaba sendo conquistada, em muitos casos, pelo mais esperto, não pelo mais inteligente ou pelo mais ousado ou inescrupuloso do que pelo abnegado e persistente em sua postura solidária e humanista. Essa inversão é estimulada e aceita sem questionamentos exatamente pelo modelo que o sistema capitalista moderno implantou em diversos setores da sociedade e, essa “educação” vai, aos poucos, formatando o comportamento das pessoas e, matar para não morrer, torna-se prática comum e natural, sob o ponto de vista da “legítima defesa”. É vencer a qualquer custo. É ser o primeiro lugar independentemente do caminho que esteja trilhando, onde os fins justificariam os meios. Nossas crianças estão sendo treinadas  para serem “águias”, não gente.

Não é fácil viver na contra-mão dessa filosofia  e, ao mesmo tempo, sentir-nos felizes e realizados, pois a percepção desses comportamentos acabam afetando a nossa vida em grandes proporções, se não estivermos bem resolvidos com a postura que  adotamos, dispostos a pagar o preço das nossas decisões.  

Se a nossa motivação não estiver centrada em nossas reais convicções, não as sugestionadas pelo meio com relação a atividade que exercemos, não teremos como sobreviver a essa selva moderna. Trabalhar com foco numa missão que abraçamos, esperando aplausos e reconhecimento, pode ser uma expectativa frustrante.  As mesmas mãos que nos aplaudem quando correspondemos ao que esperam de nós, são as mesmas que acenam a desaprovação quando não correspondemos às expectativas da platéia.

Formatar o nosso comportamento com base nas expectativas da maioria, é de certo modo, um mecanismo de defesa, e há muitos que se submetem a esse jogo. É mais fácil para alguns acreditarem na ilusão de um suposto"poder"que lhes entregam, do que olhar para si mesmos e para seus rastros no caminho    e ver se merecem mesmo o que receberam. É doloroso "deixar a vida que ao “mundo” nos prende". Parece mais "leve" a primeira vista, tentar agradar a Deus e a Baal. Nesse plano, nos respaldamos apenas em nossas conveniências.

Nosso trabalho deve ser abraçado como uma missão a ser cumprida. Decidir por isso é estar disposto, em muitos casos, a abrir mão dos próprios interesses.  É difícil ser missionário e profissional ao mesmo tempo. Com muita frequência entramos em rota de colisão entre a  nossa  necessidade temporal com o ideal que defendemos.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

OS 180 SEGUNDOS

Se olharmos apenas as limitações e circunstâncias adversas que envolvem  a  jornada, o empecilho para a persistência pode estar a caminho.


Nos tempos da velha máquina de datilografia
Em 1987, eu  já ensaiava meus primeiros passos numa emissora de rádio, no mesmo momento  em  que trabalhava no serviço de alto falante do seu Zezinho de Austin, distrito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense - RJ. Aliás, ali foi o meu berço profissional. Seu Zezinho, mineiro de Manhuaçu, era um homem prático, simples, de uma maturidade e sensibilidade  ímpar  no que fazia, e  conseguia passar muito bem o que sabia. Católico  praticante, demonstrava muito respeito pela religião, pela família e os valores morais e espirituais. Não me esqueço o que ele dizia: "Se em cada esquina tivesse uma igreja, creio que teríamos uma sociedade melhor".

“O Despertar da Consciência” era o nome do programa apresentado pelo maestro e escritor Matias de Oliveira, que me deu oportunidade de participar com um quadro dentro de seu horário, pois ele havia sido informado por pessoas próximas, do grande interesse que eu demonstrava pela comunicação e o sonho de trabalhar no rádio. À época, Matias era um jovem músico, pesquisador dos grandes questionamentos da humanidade quanto à sua origem e destino. Ainda jovem, morreu de um ataque fulminante do coração, deixando esposa  e  três   filhos pequenos.


Estúdio da Rádio Solimões - 1990
Já contratado como noticiarista

Nesse programa, eu apresentava uma espécie de crônica de minha autoria; outras vezes, artigos sobre saúde, comportamento, etc.  Eram três minutos de participação, que me renderam votos de sucesso da parte dos que me acompanhavam, dos meus pais e de toda a família.


Depois de quase uma hora dentro de conduções para chegar à Rádio Mauá Solimões, aqueles 180 segundos no ar significavam muito para mim, coisa que eu levava muito à sério. O programa era sempre ao vivo, às vezes acompanhado do auditório da emissora por vários convidados, com início às 21h.

Quase dois anos depois, aos 17 anos de idade, adentrava o estúdio da mesma rádio com várias laudas na mão, ainda redigidas com as velhas máquinas de datilografia e uma responsabilidade ainda maior, de apresentar o principal noticiário da emissora. Foi  no dia 20 de março de 1989, que a luz vermelha do estúdio se acendeu para mim, sinalizando que eu já estava no ar.  Era o “Informativo Solimões”um resumo das principais notícias do Brasil e do Mundo, como era anunciado pelo locutor padrão na abertura do noticioso. O jornal era patrocinado pela renomada  empresa química multinacional, a Bayer do Brasil.  Apoiado e acompanhado pelo chefe de Jornalismo, Fernando de Souza, me sentia seguro, pois com a muita experiência que  tinha, não me deixava desistir, quando os erros e tropeços me cercavam os caminhos da leitura, pois dizia ele acreditar em meu “potencial”. Tornei-me desde então, o segundo locutor noticiarista da emissora. Fernandel foi um grande professor, de larga experiência em veículos de comunicação tradicionais do Rio de Janeiro como a Rádio Continental; Tupi; Mayrink Veiga, entre outras emissoras. Era um mestre no  improviso pois era dotado de grande cultura e bem informado em quase todos os temas que se levantasse em debate. Aliás, era ele muito requisitado para os programas de debate da emissora.

Com muita simplicidade, sem ostentar a vaidade de seu status, seu prazer era dividir suas experiências com os novatos. Vivi um momento em que os iniciantes na carreira tinham respeito e grande interesse em ouvir o que os mais experientes tinham a compartilhar. Eu via alegria nos olhos do Fernando, quando falava de suas experiências, fazendo aplicações práticas para estudantes de jornalismo que iam à emissora para fazer pesquisa.

Fernandel morreu em 2006, depois de passar por longo período de depressão, ao deixar os microfones depois de sua aposentadoria e não resistiu a uma forte pneumonia.


Elias Teixeira - 1996 
Mais tarde, em 1991, na mesma emissora, ganhei um horário de apresentador, onde comecei o programa “Elias Teixeira & Você”. Era um programa de temática social e de aplicação religiosa. Nele eu tive a oportunidade de lançar vários cantores da música evangélica - nos tempos em que as FMs gospel estavam iniciando suas atividades no Rio de Janeiro - além de apresentar temas variados de debates e reflexões, bem como promoção social. Pessoas necessitadas procuravam o programa em busca de ajuda; cantores me procuravam para promoverem seus discos. E todos eram atendidos. O rádio precisa funcionar como uma via de mão dupla. Não é só dos microfones para fora, mas de fora para os microfones. Esse dinamismo que crescia à medida que a engrenagem funcionava, fazia crescer também a satisfação de ver o resultado do trabalho, na prática.


O tempo passa - os objetivos continuam
Tudo começou com apenas três minutos. Hoje, considero que não importa o tamanho da oportunidade que se conquista, ou o espaço de tempo que se tem para viver. O que importa, de fato, é a oportunidade. Quando o trabalho é feito com amor e verdade, focado no presente, o resultado não pode ser outro. Talvez se olharmos apenas as limitações e circunstâncias adversas que envolvem  a  jornada, o empecilho para a persistência pode estar a caminho.

Creio que é preciso aprender em todos os momentos, observando, respeitando, construindo a cada passo o caminho pelo qual queremos trilhar, conscientes de que atrás de nós vem sempre alguém, e que, à nossa frente,  alguém também  já construiu seu  próprio caminho.




terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SONHANDO ALTO


Há muitos termos motivadores que ajudam muitas pessoas a conquistarem seus objetivos. Mas, até que ponto isso funciona com todos?
A águia que se renova, símbolo de poder,
também é predadora

A questão de “sonhar alto”, não vem por motivação estimulada por exemplos dos outros. Dificilmente sabemos, de fato, os métodos utilizados. Alguns são nítidos. Mas há algo essencialmente imaterial que nos motiva a fazer alguma coisa. Os que são considerados grandes sonhadores que conseguiram realizar grandes feitos, teriam mesmo sonhado alto, ou à altura de suas possibilidades? Na esfera das possibilidades, tudo é possível. Daí não é o fato de sonhar alto que poderá trazer altas realizações. Todos os sonhos que sonhamos, são realizáveis, porque conseguimos sonhar. O autoconhecimento de nossas capacidades é que dará esse “combustível” para a continuidade na busca pela realização.  Por outro lado, podemos considerar que, se dentro da esfera das possibilidades, todo sonho é realizável, o sonho deixa de ser sonho, para tornar-se um plano. Naturalmente no plano, estabelece-se os meios para viabilizar o que pretendemos alcançar. Nesse caso, sonho passa a ser mais uma palavra abstrata, até mesmo poética, sem um sentido real. Não existe sonho inalcançável.
Cada vitória, tem a ver com sonhos individuais,
não por sugestão formatada em larga escala.
O que penso é que os que “sonham alto”, conseguem fazer sua história, sem a necessidade de ser “empurrado” pelos outros, porque tem foco, objetivo e com ele, os planos.  Este é o motivo que me deixa pensativo, quando, goela abaixo  tentam nos empurrar uma motivação, que de fato, não surte efeito, na prática. São coisas muito relativas, que ocorrem na verdade, com os que, de certo modo, desenvolvem a vontade para determinadas ações. Não é o sonho que motiva. É a vontade.  
Mas nem  todos conseguem as mesmas coisas, mesmo utilizando as mesmas fórmulas. Se abandonarmos o princípio vocacional, apesar de vivermos numa sociedade que apregoa que tudo se aprende, nem todos se desenvolvem da mesma maneira na mesma atividade. Nesse ponto, subentende-se que de modo geral, vivemos uma interferência sugestionada até nas escolhas  das profissões.
Por mais exemplos que podemos  citar, o Brasil não tem outro Silvio Santos, que criou um império de comunicação, iniciando como vendedor de canetas. Não houve um outro vendedor de canetas, pelo menos conhecido, que tenha se espelhado no empresário.  
Assis Chateaubriand recusou estudos
 que apontavam a inviabilidade
da implantação televisiva no Brasil no início
dos anos 1950
É preciso aprender a olhar para nós e para as nossas potencialidades natas, e sonhar o nosso sonho, não aquilo que nos tentam fazer sonhar., os fatores determinantes que despertam a nossa vontade. 

A maior liberdade que temos é a nossa vontade, o que naturalmente alimentamos na vida; a intuição.

Em todos os aspectos da vida, muitos vivem em torno de formatações tendenciosas, levando a uma situação frustrante por não conseguirem adequar-se à fôrma.

Não é raro ouvirmos comentários como “Eu fiz tudo o que me pediram; tudo o que me sugeriram, mas não foi satisfatório para mim”.

Não trato de termos utilizados para motivar. Devemos dar atenção aos nossos  próprios motivos. É fato que as pessoas não mudam por causa das sugestões. Ainda que elas sejam até orientadas orientadas a fazer algo  e  persistir em determinada área, há questões muito particulares que os leva a tomar decisão pela continuidade ou não de sua busca. Daí explica-se o fato de muitos pararem pelo caminho, e outros prosseguirem. Os que pararam, por vezes entenderam que sua motivação é outra, isso não signidica necessariamente uma estagnação. Quem deixa de fazer uma coisa, passa a fazer outra. O ser humano não deve ser tratado na escala dos prognósticos e estatísticas,  nem seus comportamentos avaliados por teorias de estudos comportamentais, levando em conta o que ocorre com a maioria, ou o que se define sobre comportamento padrão. Os estigmas são criados, em muitos casos, por esta visão generalizada. Isso compromete a nossa aceitação do indivíduo com suas particularidades. Quem determina que o normal é normal, e o anormal, anormal? Há coisas comuns a todos,  mas cada indivíduo tem algo particular que o torna único, insubstituível.


Por mais que desejamos algo mais elevado, a nossa satisfação ocorrerá de maneira espiritual. Há quantas pessoas aparentemente realizadas, que sentem o vazio de não fazerem exatamente o que gostariam de estar fazendo? A questão de realização de sonho precisa ser avaliada além das conquistas materiais e do alcance dos patamares que desejamos alcançar. É preciso que essas realizações e conquistas estejam associadas à disposição, vontade e inclinação espiritual para toda e qualquer atividade.


Eu penso ser grande oportunismo, utilizarmos realizações de figuras populares para a motivação de outras pessoas, com o objetivo de vendermos uma idéia. Na prática, o resultado não ocorrerá da mesma maneira e com a mesma intensidade com todas as pessoas. É deste modo, que muitas pessoas acabam por colocar sobre os ombros uma carga que não as pertence. Com o passar do tempo, essa "carga"  torna-se insuportável. Cada indivíduo é único. Todas as realizações mencionadas na história da humanidade, nasceram de espírito empreendedor e desbravador por uma motivação particular. As motivações pessoais que temos, podem motivar a outros que tenham os mesmos objetivos. Ou seja, os exemplos dos outros só farão despertar desejos comuns, ora adormecidos.  Há co,provações que muitos realizadores sequer ouviam opiniões contrárias, que poderiam ser interpretadas como desmotivadoras, mas, pelo contrário, foram avante confiantes em sua intuição, de que daria certo, pela dedicação, pelas tentativas; pela visualização mental de seus projetos concluídos utilizando-se de  fórmulas que criaram.

Por este motivo, a “fôrma” social na qual querem nos prender, rouba-nos a criatividade, a auto confiança, e a possibilidade de tentarmos realizar com os próprios sonhos, desenvolvendo nossas reais potencialidades.  Passamos a viver uma escravidão funcional na dependência da realização dos outros, para buscarmos os motivos para a realização de nossos "sonhos".
As vezes, o caminho já foi aberto;
outras vezes precisamos
abrir os nossos.

Quando desejamos o que não  nos pertence, e querer o que não podemos, corremos o risco de viver uma vida frustrada. Nessa questão, precisamos olhar para o nosso potencial, o que temos nas mãos e, caminhar o nosso caminho. Certamente, quando assim o fazemos, não corremos o risco de atropelar, nem sermos atropelados nessa caminhada.

Na vida espiritual, de muitos personagens Bíblicos, há muitos relatos que nos fazem perceber a persistência de alguns, diante dos desafios.  Noé pregou mais de uma centena de anos para que o povo se arrependesse. Não houve outro Noé. Jó foi provado, perdeu bens e filhos. Mas não houve outro Jó. A experiência dele foi única. A tentativa de equiparar vitórias ou derrotas, passam a desviar do nosso olhar o nosso chamado, a nossa vocação. Procurar entendermo-nos diante da nossa luta individual.
Deus, mostrava com isso, que quando Ele escolhe alguém que aceita o seu chamado ppara determinada atividade e/ou até mesmo representa-lo diante do Universo, como foi a prova de Jó, quando assim o faz,  promove os meios  para que seja bem sucedido. É essa sensibilidade que devemos desenvolver. Sensibilidade, que outros sentimentos como a ambição, a inveja, a cobiça, o egoísmo,  nos roubam. Passamos a ser marionetes da "sorte" e a viver uma vida vazia, apesar de “agitada” pelas buscas que fazemos.

Nunca vi algum vencedor reclamar dos obstáculos, pois cada um deles sabe os desafios a enfrentar, quando está disposto a atender o seu chamado. Mas somos nós mesmos  quem reclamamos por ele, choramos por ele,  desenvolvendo até mesmo uma maneira diferenciada de trata-lo, colocando-o como referência de alguma coisa. Mas, de fato, o vencedor estava apenas no caminho do cumprimento de sua missão. O sonhador que realizou, estava apenas sonhando seu próprio sonho.  Para mim não existe o "sonhar alto". Todo sonho realizável, é aquele que sonhamos à nossa própria altura.